NO PAÍS DAS
CRISES, O FALSO MILAGRE DA AUTOMEDICAÇÃO
AMÉRICO TÂNGARI JR. (*)
O
monitor que mede a pulsação cardíaca do Brasil não registra nem um minuto de
sossego em sua história recente – de crise em crise, ele se assemelha a uma
montanha russa intermitente, de tanto sobe e desce na economia, na política e,
em especial, em questões morais e éticas. Os batimentos vão a mil e o País
respira mal com esse dia-a-dia recheado de notícias surpreendentes, como se o
barco estivesse à deriva e sem bote salva-vidas. Cai governo, assume governo,
mas a oscilação continua. Em alguns casos, reaviva a esperança. E como fica a
saúde do brasileiro navegando neste mar revolto? Se no Brasil até o passado
incerto, como disse certa vez o ex-ministro Pedro Malan, o que esperar do
presente e, principalmente, do futuro? Tudo isso produz muita ansiedade no
povo, que espera ver apenas uma luz nessa escuridão.
O
fato é que a ansiedade em excesso não traz nenhum benefício à saúde. Deve-se
controlá-la, com muito sangue frio e o acompanhamento de um médico, caso as
batidas do coração acelerem mais do que o normal diante dos perigos. O cidadão
deve estar sempre bem preparado para atravessar as tormentas, desde que use as
ferramentas corretas, como manter consultas e exames médicos em dia. Em caso de
alerta, não corra para a automedicação e muito menos procure milagres
alternativos, como as simpatias e similares. Isso pode lhe causar um grande
estrago em vez da cura. O número de
pessoas que se automedicam ou que não seguem o tratamento prescrito pelo médico
tem aumentado a cada dia em virtude da pressa ou da angústia de querer alcançar
resultados rápidos.
A
ansiedade abre um enorme espaço para o folclore da saúde, a medicação
alternativa, as simpatias, os chás, as dietas milagrosas e até as cápsulas com
promessa de efeitos extraordinários - produtos, como se sabe, que não possuem
base científica ou chancela da medicina convencional. De todos os lados surgem
dicas ou receitas caseiras para curar inflamação, dor de estômago, dor de
ouvido, artrite, olho de peixe, celulite, câimbra. Há solução para tudo na
medicina da vida, baseada em crendices populares que passam de geração a
geração: chá de hortelã para acalmar, o de boldo para se livrar da indigestão,
lenço com álcool no pescoço para amenizar a dor de garganta etc.
Muitas
pessoas acreditam que, por serem naturais, as plantas medicinais e outras
formas de cura não provocam efeitos colaterais. É um engano. Os chás, por
exemplo, são feitos com plantas com princípios ativos e substâncias
específicas. As infusões, apesar de seus inúmeros benefícios, devem ser
consumidas de maneira cautelosa. Algumas mais que outras. Dependendo
de suas características, podem não ser recomendados para determinadas pessoas.
Alguns tipos de chá contêm muita cafeína e podem causar insônia, taquicardia e
estimular arritmias cardíacas – efeitos perigosos para gestante e indivíduos
com problemas de hipertensão e doenças circulatórias ou do coração em geral.
O
mesmo vale para outras orientações de cunho naturista como dietas, alimentos
naturais e crenças em determinados produtos da moda, do tipo linhaça, quinoa,
berinjela. Se a maioria deles não possui eficácia comprovada pela medicina, não
podemos afirmar se, de fato, fazem bem. Bom ter cautela. O
que prevalece sobre tudo isso é uma vida regrada e ancorada em princípios que
não agridam o corpo nem o espírito. Para quem registra uma história de problemas
de saúde efetivamente comprovados, a recomendação é não fugir da medicina
oficial e evitar os aconselhamentos alternativos. É evidente que nem tudo o que
é prescrito obterá resultados esperados ou adequados. O melhor conselho é
procurar os caminhos mais indicados e benéficos para o paciente, a partir da
análise de sua história e de seu modo de vida.
Quer
o leitor um conselho simples? Procure um médico de confiança para esclarecer
todas as dúvidas. Afinal, o coração tem inimigos mortais, como o colesterol
alto, o sedentarismo e o tabagismo. Os dados são aterradores: de 11% a 20% da
população adulta com mais de 20 anos sofrem de hipertensão arterial, problema
presente entre 40% a 60% nas pessoas que desenvolvem um infarto do miocárdio. E
os grandes vilões são estresse e ansiedade, fatores que prejudicam o sono e a
alimentação, aumentando a adrenalina. Daí vem a hipertensão, carga a mais para
sobrecarregar o coração.
De
todo modo, importante ficar atento aos sintomas que se manifestam em quase todas
as doenças do coração ou que podem indicar algum tipo de comprometimento
cardíaco:
Falta
de ar, seja no repouso ou no esforço;
dor
no peito, em virtude de má circulação sanguínea no local;
cansaço
fácil;
desmaio
após atividade física intensa;
dor
de cabeça;
inchaço
nos tornozelos.
Ao primeiro sinal de anormalidade, procure um
médico e submeta-se aos exames. Vale a pena viver sempre de forma saudável, em
vez de sobressaltos e de crises intermináveis como o nosso País.
(*) é médico
cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
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