terça-feira, 12 de julho de 2016

Um artigo sobre a Lei Rouanet


Não desista da Lei Rouanet

Maria Teresa Fornea(*)

Nunca a Lei Rouanet esteve tão em pauta como agora. Casamentos, festas e obras literárias de artistas apareceram na mídia nacional como produtos financiados pela lei que tem entre seus objetivos a promoção, a valorização e a democratização do acesso à cultura. O fato é que mesmo com alguns exemplos e escândalos de fraude envolvendo a lei, é preciso reconsiderar a forma de como ela pode ser utilizada na prática.
A famosa "Rouanet" foi criada no governo Collor como parte do Programa Nacional de Apoio à Cultura e serviria como forma política de renúncia fiscal. O que isso quer dizer? Artistas, produtores culturais, fundações e empresas podem captar dinheiro para o financiamento de projetos utilizando parte da verba que seria destinada ao pagamento do imposto de renda por pessoas físicas (6%) e jurídicas (4%).
Por conta desses escândalos e projetos "sem sentido", a Lei Rouanet vem sendo vista como motivo de piada em alguns noticiários. Atualmente, mais de 3 mil projetos são apoiados a cada ano pela lei. Segundo a revista Exame, só no ano passado, os 15 maiores captadores receberam mais de R$ 185 milhões para seus projetos. É muita coisa. Mas é preciso olhar com mais carinho para estas campanhas que contam com o apoio da lei. Por que isso?
Simples. Exatamente por funcionar e ser importante para o desenvolvimento cultural do Brasil, a Rouanet deve ser aplicada em projetos que vão além daqueles que trazem apenas benefícios pessoais para alguns artistas, por exemplo. É preciso fazer com que o projeto tenha impacto direto e positivo na realidade das comunidades e garanta o acesso aos diversos tipos de cultura.
Nesse contexto, entra outro tipo de cultura como a da educação financeira, por exemplo. Imagine só poder mudar a forma de gerenciar uma empresa. É a cultura da administração, do gerenciamento em pauta. De ajudar a colocar a economia do Brasil nos eixos. Existe espaço para que projetos com este caráter entrem em pauta e consigam apoio da Lei Rouanet.
Exemplo disso é o recém-lançado Amigo PME, primeiro programa educacional brasileiro voltado para micro e pequenos empresários. Totalmente gratuito, o projeto tem o intuito de provocar uma mudança no comportamento desses empreendedores via instrumento de educação financeira. O projeto disponibilizará conteúdo aos usuários em forma de vídeo-aulas, artigos e entrevistas,  que servirá como forma de ajudar os empreendedores a administrarem o negócio de maneira mais eficiente. No final, as informações mais relevantes e os melhores “cases” serão compilados em um documentário, produto pensado com o intuito de contribuir com o desenvolvimento cultural do país.
Outro bom exemplo de projeto aprovado pela Lei Rouanet é o Festival de Dança de Joinville. O maior festival de dança do mundo – segundo registro do Guiness Book - movimenta o país todo e joga os holofotes mundiais para a cidade catarinense. Partindo do principio que o acesso à cultura é um direito de todos, o festival busca garantir esse direito à população regional, visto que todos têm acesso, gratuitamente, a grandes espetáculos da dança. Além de gerar subsídios para o aprimoramento cultural da população, a iniciativa também marca posição em favor da cultura da dança na região, no Estado e no país.
Mas para que outros projetos semelhantes sejam aprovados e pela Rouanet, é necessário que a cultura seja entendida como um espaço de realização da cidadania e da conscientização dos cidadãos.  A Lei Rouanet não pode ser generalizada e desmoralizada. O problema não está na lei, mas no desvio de sua finalidade. Claro que não estamos falando de todos os projetos, mas tendo em vista alguns escândalos atuais, infelizmente é necessário fazer esta comparação.
Volto a dizer que é necessário que os empresários, produtores e artistas revejam a forma de pedir o apoio da lei em questão e passem a apresentar projetos consistentes e que realmente mudem a realidade das pessoas. E não a realidade em prol de si próprios. Lançar um livro, um show, um disco... Sim, é importante e completamente válido, desde que tenha impacto direto na população.
A comunidade brasileira clama por ajuda e a Lei Rouanet está aí para isso: democratizar o acesso à cultura, fator importantíssimo para o crescimento do país.

(*) é diretora do Conglomerado Financeiro Barigui

Ilustração: Blog do Flávio Chaves 




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