Como melhorar o estágio no Brasil
Marcus Garcia (*)
Criado para complementar a formação
acadêmica, o estágio no Brasil acabou perdendo seu objetivo educacional com o
passar dos anos. Uma cultura secular arraigada em nosso país parece pensar que
estagiário é sinônimo de mão-de-obra de baixo custo. Uma espécie de ‘faz tudo’
e ‘pau para toda obra’ que é contratado sob os auspícios de aprendizado, mas
que não se mostra efetivo.
Uma explicação para isso pode ser a
elevada carga tributária brasileira associada às pesadas contribuições sobre
salários, que tornam a operação das empresas muitas vezes um desafio. A Lei
6.494 de 1977, que regulamentava a situação dos estagiários, deixava enormes
lacunas, o que permitia às empresas contratar estagiários com isenção dos
encargos sobre os salários para cumprirem funções e papéis que não tinham
relação com seu curso de formação. A nova lei do Estágio (11.788 de 2008)
corrigiu erros da antiga e regulamentou a atividade, mas ainda existe o
‘jeitinho brasileiro’, ou seja, continuar contratando estagiários
beneficiando-se das isenções, mas sem o compromisso com o processo de
aprendizagem favorável à formação do jovem.
Além disso, também existe a reclamação
das empresas que dizem receber estudantes com pouca formação acadêmica. Para
resolver esse problema, algumas organizações criaram os Programas de
Trainee. Neste modelo, as empresas selecionam profissionais que estejam
formados em até, no máximo, 24 meses e os preparam para atuação em posições de
gestão. É uma resposta das empresas à fragilidade de formação e modelo de preparação
que as instituições de ensino ofertam.
Outra solução seria a chamada
Aprendizagem Cooperativa ou CO-OP. Esse modelo vem sendo aplicado com
excelentes resultados na Universidade de Waterloo, no Canadá, e adotado em
outras Universidades mundo afora. A Aprendizagem Cooperativa é baseada em
pesquisas que defendem a necessidade de cooperação como condição de
desenvolvimento e progresso. Funciona com a revisão dos programas de ensino e
aprendizagem que faz uma intercalação entre períodos letivos e momento com
imersão total no mundo do trabalho, realizando avaliações e supervisão
permanentes. O estudante consegue alternar estudo com prática, fazer rodízio de
funções, explorando opções para carreira e construindo um networking.
Nessa modalidade, as empresas
identificam talentos e ganham com as novas ideias e motivação dos estudantes.
As instituições de ensino que oferecem essa possibilidade atraem mais
estudantes, com aumento da visibilidade e reputação, já que proporcionam
enriquecimento da comunidade educacional com graduados bem preparados e
projetos colaborativos com os empregadores.
Mas, o que seria ideal no Brasil? É
necessário que o sistema de estágio seja adequado a cada realidade social,
cultural e local. Quando um sistema é suficientemente flexível para permitir
adequações a cada realidade, boas experiências podem ser obtidas e bons
resultados conquistados. Para isto, é fundamental que o estudante aplique no
mundo do trabalho os conceitos que aprendeu na escola. E para a empresa deve
ser visto como um investimento na renovação da organização, com as ideias e
entusiasmo do jovem, que trará da escola novas visões de mundo que poderão ser
adequadas à realidade corporativa. Para isto ocorrer, a empresa precisa estar
aberta ao novo e a escola deve efetivar seu papel formativo e se beneficiar das
experiências das organizações para rever permanentemente seus currículos e
práticas.
(*) É especialista em inteligência
motivacional e gestão de pessoas, e atua como professor do Instituto Superior
de Administração e Economia (ISAE), de Curitiba (PR).
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